Matemática

Matemática

26 de junho de 2020
por Amanda Ribeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


Apesar de constar no imaginário social como amedrontadora ou um dom raro, a matemática não deve ser entendida como um “luxo”, mas como uma condição para se exercer plenamente a cidadania. É o que afirmou o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, em entrevista concedida ao jornal “Almoço da Quarentena”, do canal do YouTube MyNews, nesta quinta-feira (25). “A matemática é uma condição de realização de cidadania. Uma pessoa que compra um eletrodoméstico no crediário e não entende o conceito de taxa de juros não se realiza como cidadã”, disse. Na entrevista com as jornalistas Mara Luquet e Myrian Clark, Viana falou sobre a importância da disciplina na vida cotidiana e seu ensino na educação básica do país.


O desequilíbrio entre o desempenho da matemática escolar no Brasil e as avançadas pesquisas desenvolvidas por instituições nacionais de ponta da área, como o IMPA, foi um dos temas discutidos na conversa. Uma solução para o entrave, segundo Viana, seria o aprimoramento da formação de professores. “O professor é a principal ferramenta e o ‘herói’ da batalha da educação. E infelizmente há várias lacunas e deficiências na nossa licenciatura.”

Coordenado pela SBM (Sociedade Brasileira de Matemática), o PROFMAT (Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional) foi apontado como um importante aliado para a formação de professores pelo entrevistado. “Ao oferecer mestrado de alto nível para docentes da educação básica, o PROFMAT contribui para o diálogo entre as escolas e as universidades, que no Brasil ainda é muito pequeno.”

O ensino teórico da matemática, desconectado da realidade dos alunos, é avaliado pelo diretor-geral do IMPA como o “calcanhar de aquiles” da educação brasileira. “Sabemos que crianças pequenas gostam muito de matemática porque elas conectam o que aprendem com a realidade, contam brinquedos, comparam fatias de pizza. É uma matemática real para a vivência delas. Mas ao longo do processo escolar esta conexão se perde”, relatou o matemático. Apesar de representar um enorme desafio para os professores, este impedimento precisa ser superado. “Caso contrário acabamos falhando em formar pessoas que estejam habilitadas a usar essas ferramentas no seu dia a dia”, completou.

Jornalista e economista especializada em finanças e investimentos, Mara Luquet mencionou uma experiência pessoal para ilustrar como a conexão com a realidade facilita a assimilação de conteúdo por crianças e jovens. Diante do desafio de apresentar uma palestra sobre o distante tema de finanças pessoais para a turma de uma escola pública do Rio de Janeiro, ela se perguntou: “Vou falar de juros para essas crianças?” Optou por uma abordagem diferente. “Quando percebi que ninguém estava dando bola, decidi falar sobre brigas em casa por contas de dívida.” O interesse foi instantâneo. “Além de contribuir para a formação dos jovens como adultos, para que tomem decisões financeiras melhores no futuro, isto contribui como agente multiplicador para família”, pontuou Mara. Ela citou como exemplo positivo a Costa Rica, onde, afirmou, houve a decisão política de destinar recursos de Defesa para a educação, o que teria transformado a realidade do país na área.

Uma mudança efetiva da realidade da educação brasileira requer um processo cultural da população, afirmou Viana. “A sociedade precisa abraçar a causa. Mas isso significa fazer escolhas que terão ganhadores e perdedores.” O matemático mencionou que países que tiveram um aumento de 25 pontos no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) dobraram o Produto Interno Bruto (PIB). “No caso do Brasil, subir 25 pontos no PISA seria chegar ao patamar do México. Não é uma relação causal. É uma correlação que indica o valor agregado que tem o sistema educacional de um país.”

Fonte: Texto extraído em 26 de junho de 2020 do link : https://impa.br/noticias/matematica-e-uma-condicao-de-cidadania-diz-marcelo-viana-ao-mynews/?utm_source=facebook&utm_medium=post-link

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