Mercado de Trabalho
Os jovens atuais do mundo têm, em média, mais anos de estudo do que qualquer geração que veio antes deles. E, no entanto, eles vêm tendo grande dificuldade em se inserir no mercado de trabalho e em conciliar o que aprendem na escola com o que é esperado do ambiente profissional.
Além disso, uma parcela considerável desses jovens sonha com profissões que correm o risco de não existir no futuro: podem ser automatizadas pelo avanço da tecnologia.
A avaliação acima é o ponto de partida do relatório Emprego dos Sonhos?, lançado na quarta-feira, 22 de janeiro, pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) durante o Fórum Econômico Mundial, trazendo dados sobre aspirações profissionais futuras de cerca de 600 mil jovens de 15 anos em 79 países e territórios, entre eles o Brasil.
As entrevistas com os jovens foram feitas em 2018, durante a aplicação do Pisa, exame internacional que mede o desempenho de estudantes em matemática, leitura e ciências. Aos 15 anos de idade, a maioria dos participantes do exame caminhava para o fim do ciclo da educação básica e se preparava para a escolha da educação superior — e também de o que quer fazer na vida profissional.
E o que a pesquisa identificou é que a maioria dos jovens sonha com um número limitado de carreiras, bastante parecidas às citadas por jovens entrevistados na mesma pesquisa oito anos antes, durante o Piso 2000:
Para a OCDE, há ao menos duas questões importantes a serem debatidas:
- será que essas aspirações vão refletir as necessidades do ambiente profissional do futuro?
- E será que os jovens — principalmente os de baixa renda — estão recebendo a educação e a orientação corretas para fazer boas escolhas para seu futuro profissional?
'Expectativas de carreiras mudaram pouco'
No Brasil — onde 11 mil alunos participaram do Pisa —, 70% das meninas e 60% dos meninos sonham com as mesmas dez carreiras, semelhantes às citadas acima.
Esse risco varia de país para país e também é influenciado pela educação e pelo nível socioeconômico dos trabalhadores: quanto mais baixo for esse nível, maior é o risco de eles terem seus empregos substituídos por computadores ou pela Inteligência Artificial.
Embora o relatório da OCDE não detalhe quais profissões escolhidas por jovens estão mais sob risco de automação, pesquisas prévias já haviam se debruçado nesse assunto.
O relatório Futuro do Emprego 2018, do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), lista funções que tendem sofrer mudanças pela presença da Inteligência Artificial e inserção de robôs, drones ou algoritmos. Entre essas funções estão: advogados, contadores, mecânicos, motoristas de veículos, bancários, trabalhadores fabris, auditores, gerentes administrativos e caixas de lojas.
Quase 50% das empresas entrevistadas pelo Fórum Econômico Mundial preveem que a automação provocará demissões de seus empregados até 2022. Ao mesmo tempo, 38% delas esperam contratar mais gente para funções que elevem sua produtividade, gerando outro tipo de emprego com exigências de outro tipo de qualificação.
Os empregos considerados em ascensão pelo relatório do WEF são analistas e cientistas de dados, especialistas em TI ou Big Data, desenvolvedores de softwares, especialistas em redes sociais e comércio digital, entre outros.
"Em 2022, (as empresas preveem que) nada menos que 54% de todos os funcionários vão precisar de um significativo aumento de suas habilidades", diz o texto.
Como preparar os jovens para as novas demandas?
De volta ao relatório da OCDE, a entidade conclui que parece haver uma desconexão entre o que os jovens de agora anteveem para seu futuro profissional e o que encontrarão, de fato, ao procurarem emprego, em um futuro próximo.
"Parece que os sinais do mercado profissional não estão conseguindo alcançar os mais jovens: empregos acessíveis e bem remunerados não parecem captar a imaginação dos adolescentes", diz a organização. "Muitos jovens, particularmente meninos de origem desvantajosa (socioeconomicamente), querem empregos que correm alto risco de automação."
É possível, diz o relatório, que esses meninos sequer tenham tido qualquer contato, ao longo de sua vida escolar, com informações a respeito de como encaixar suas ambições pessoais no ambiente profissional do futuro. "Estudantes não conseguem ser algo que eles sequer conseguem ver", diz o texto.
Na pesquisa realizada durante o Pisa 2018, jovens de baixa renda tinham menor probabilidade de terem pesquisado na internet sobre carreiras futuras, de terem conversado com conselheiros vocacionais e de terem visitado ambientes profissionais ou feiras de emprego.
Entre as recomendações da entidade estão que todos os jovens tenham a oportunidade, dentro do ambiente educativo, de entrar em contato com novas profissões, por exemplo, em estágios temporários, visitas ou trabalhos meio período.
Mais ainda, recomenda que esses jovens tenham acesso a algum tipo de mentoria, que ajude-os a "refletir sobre quem eles são e quem querem se tornar, e a pensar criticamente sobre a relação entre suas escolhas educacionais e vida econômica futura. (...) Pela exposição a pessoas de diferentes empregos, os jovens têm a chance de desafiar estereótipos de classe e gênero e ampliar suas aspirações, facilitando sua entrada no mercado de trabalho".
Ensinar além de conhecimento acadêmico
A OCDE destaca também a importância de os jovens atuais aprenderem não apenas conteúdo, mas habilidades socioemocionais que lhes permitam transitar com mais facilidade pelo ambiente profissional futuro.
"A nova geração de cidadãos exige não apenas fortes habilidades acadêmicas, mas também curiosidade, imaginação, empatia, empreendedorismo e resiliência", diz o relatório. "Eles vão precisar de autoconfiança e determinação para criar seu próprio emprego e gerenciar suas carreiras de novas formas."
Para dar conta disso, as escolas precisarão "ir além das tradicionais técnicas de ensino".
"Não apenas elas terão de oferecer aos alunos o conhecimento relevante para seu futuro emprego, como também precisarão desenvolver neles habilidades para que sejam pessoalmente eficientes em aplicar esse conhecimento em ambientes em mutação. (...) Boas escolas vão ajudar os jovens a se tornar pensadores críticos sobre o mercado de trabalho e sobre como ele se relaciona ao seu aprendizado."