“Não vou fazer nada.”

“Não vou fazer nada.”

24 de fevereiro de 2021
por Amanda Ribeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


Tenho feito, desde o início de janeiro, uma conversa matinal com a minha audiência do Instagram. Muitas vezes, deixo reflexões, outras vezes, provocações, mas também partilho textos que me inspiram e me fazem pensar.

Há dias, contei o que aconteceu no momento em que, já há muitos anos a professora dos meus filhos revelou que utilizava um método com o qual eu, que estudo e trabalho com as questões da educação, tinha sérias reservas.

Nesse momento, que faz cerca de sete anos, um grupo de mães olhou para mim e esperou que eu reagisse. Não fiz nada. Quando nos encontramos depois, perguntaram-me o que iria fazer, sobretudo porque tinha escrito sobre o assunto dois dias antes desse encontro com a professora.


A minha resposta foi um seguro “Não vou fazer nada.” A verdade é que sei que não posso nem quero controlar tudo na vida dos meus filhos, expliquei-lhes. Isto é a vida a acontecer e se eu reclamar ou quiser mudar sempre tudo, quando as coisas não são do meu agrado, então estou a prejudicar os meus filhos e a desrespeitar as decisões dos outros, que são tão livres quanto as minhas. Do meu lado, irei ajudar os meus filhos a compreenderem o que se pretende, darei o meu ponto de vista, e escutarei o que têm para me dizer, verificando se isso lhes traz prejuízo ou não.

Por via de mensagem, uma mãe comentou que a professora da filha dava doces como incentivo e que ela discordava. O que fazer? Coloquei esta questão à audiência da live que fiz na tarde em que escrevo este artigo, e todos disseram que a mãe deveria falar com a professora e explicar que não era boa ideia.

Desejamos miúdos desenrolados, autônomos e que afirmem o que desejam. Mas depois metemo-nos no meio para lhes resolvermos os problemas.

– E a sua filha consegue dizer que não? – perguntei à mãe que me escreveu.

– Consegue – respondeu ela.

– Então, parece-me que o assunto está resolvido – afirmei.

Embora possam me dizer “se fosse o meu, ele aceitaria”, o nosso primeiro pensamento é, muito frequentemente, ter uma daquelas conversas “francas” com o outro. No que toca à parentalidade, nada mais errado, sobretudo quando são situações deste tipo.

Queremos miúdos capazes, emancipados e decididos, mas depois tiramos-lhes oportunidades como estas de pensarem por si e afirmarem-se. Não estou a dizer que não partilhemos os nossos receios e pontos de vista, mas será que primeiro não vale a pena dotar os nossos filhos de estratégias?

Vamos pensar nisto?

Sobre o autor: 

MAGDA GOMES DIAS Magda Gomes Dias, 42 anos, tem dois filhos: Carmen, 10 anos, e Gaspar, 7 anos. É natural do Porto, Portugal, e fundadora da Escola da Parentalidade e Educação Positivas, onde oferece programas de certificação e especialização na área. Autora do blog 'Mum's the boss', escreveu os best-sellers 'Crianças Felizes' e 'Berra-me Baixo', além do livro 'Para de Chatear a Tua Irmã e Deixa o teu Irmão em Paz'.


Fonte: Texto extraído em 24 de fevereiro de 2021 do link : https://cangurunews.com.br/discorda-do-metodo-da-professora/

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