“Não vamos nos livrar da realidade.”
Zygmunt Bauman: internet abala atenção, paciência e perseverança para construir um conhecimento sólido - Foto Reprodução/ Agência O Globo
O Colégio Recanto esteve atento ao 2º Encontro Internacional Educação 360º, promovido entre os dias 12 e 13 de setembro. O encontro foi organizado pelo jornal O Globo e Extra e em parceria com a Prefeitura do Rio e o Sesc, com apoio da TV Globo e do Canal Futura. O objetivo foi de compartilhar o maior número possível de visões e de experiências inovadoras e bem-sucedidas, que vêm buscando atender às novas demandas da sociedade em relação ao ensino/aprendizagem.
Uma das palestras mais esperadas foi a do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que cunhou o termo “modernidade líquida” para definir as relações sociais, e até mesmo amorosas, na era pós-moderna. A teoria baseia-se na ideia de que a globalização e sua capacidade exponencial de gerar informação, tornou as relações humanas fluidas, ou seja, sem afeto e voláteis, ou melhor, sem laço.
Neste contexto, Baumam analisou o impacto desta característica nos ambientes de Educação:
— A educação é vítima da modernidade líquida, que é um conceito meu. O pensamento está sendo influenciado pela tecnologia. Há uma crise de atenção, por exemplo. Concentrar-se e se dedicar por um longo tempo é uma questão muito importante. Somos cada vez menos capazes de fazer isso da forma correta — disse o pensador. — Isso se aplica aos jovens, em grande parte. Os professores reclamam porque eles não conseguem lidar com isso. Até mesmo um artigo que você peça para a próxima aula, os alunos não conseguem ler. Buscam citações, passagens e pedaços.
Desfragmentação, impaciência e falta de persistência
Baumam relatou que as vantagens que as ferramentas de busca na Internet trouxeram são incontestáveis, mas reforçou que o desafio é saber como nos articular com este conhecimento desfragmentado. Ilustrou o momento no qual vivemos com a frase histórica de Sócrates “Só sei que nada sei.”
O sociólogo ponderou outras consequências deste mundo cibernético como a impaciência e a falta de persistência para alcançar resultados:
— Se demoramos mais de um minuto para acessar a internet quando ligamos o computador, ficamos furiosos. Um minuto só! Nosso limiar de paciência diminuiu. As informações mais bem-sucedidas, que têm mais probabilidade de serem consumidas, são apenas pedaços — diz o polonês. — Outra coisa é a persistência. Conseguir algo contém em si um número de fracassos que faz com que você perca tempo e tenha que recomeçar do zero. E isso é muito complicado. Não é fácil manter essa persistência nesse ambiente com tanto ruído e tantas informações que fluem ao mesmo tempo de todos os lados.
Informação em rede
Sendo assim, Baumam salientou que o mundo de hoje não comporta mais um professor detentor do conhecimento, ele agora é um guia, que deve ser capaz de “construir conhecimento” e ter “habilidade para ocupar esse local estável, sólido, no mundo que está em constante movimento” e definiu o papel da escola:
— Uma das tarefas da educação é conferir a todas as pessoas, que tenham talento, a possibilidade de adquirir conhecimento para que isso acabe tendo um uso criativo para a sociedade.
E, sobre como relacionar Educação x Tecnologia, defendeu que “não vamos nos livrar da realidade” ,“o problema é como utilizar”.