Ciência

Ciência

16 de junho de 2017
por Amanda Cordeiro Ribeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


Em homenagem ao Dia Nacional do Químico, em 18 de junho, já consagrado em nosso calendário escolar por meio da Semana Lúdica de Química – evento que promove atividades lúdicas dos conteúdos de Química para alunos do 9º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio - divulgamos uma curiosidade científica que nos ajuda na compreensão do quanto a incorporação de aspectos sociocientíficos contribuí para o aprendizado, trazendo significado para  a estrutura de conhecimento.

Confira o artigo divulgado pela revista Superinteressante sobre como a Arte serviu de recurso para as descobertas de Pasteur:

Para quem não é fã de ciência, o médico e cientista francês Louis Pasteur já virou nome de rua (e de hospital, é claro) faz tempo. Ele morreu há mais de um século, em 1895, e no Brasil só costuma ser citado de passagem em livros didáticos – nada muito grandioso.

É irônico, portanto, que seu nome apareça, ainda que alterado, em todas as caixas de leite do mundo: ele é o criador da pasteurização, processo de esterilização de alimentos perecíveis que envolve aquecê-los a uma temperatura muito próxima da ebulição e então resfriá-los repentinamente. O choque térmico mata na hora qualquer organismo com potencial para causar doenças.                                                                        

Para entender o quanto essa sacada foi revolucionária, basta lembrar que, na época em que ele viveu, a própria ideia de que males como a cólera fossem causados por criaturas invisíveis a olho nu era questionável. O trabalho de Pasteur fixou o conceito de “germe” no imaginário popular, e foi um dos passos mais marcantes da ascensão da medicina como a conhecemos hoje.

Não satisfeito em resolver as principais questões de saúde pública do século 19, ele decidiu que também mudaria a história da química: foi o primeiro a notar o fenômeno da quiralidade – em bom português, o fato de que certas moléculas têm versões invertidas de si próprias, uma espécie de “lado B” oculto que é só superficialmente igual, mas que pode ter efeitos radicalmente diferentes em aplicações farmacêuticas. 

Ficou difícil? Calma. Primeiro imagine que há um cubo vermelho, liso, na frente de um espelho. Seu reflexo será idêntico à peça original, certo?

 

 

Errado. O que Pasteur descobriu é que muitas moléculas são como palavras, e não como cubos: a versão refletida não equivale à original, como o clássico exemplo da ambulância. E que as versões invertidas podem ter consequências imprevisíveis no corpo humano.

Agora, o médico e pesquisador Joseph Gal, da Universidade de Colorado, propõe que a descoberta precoce desse princípio tão importante (Pasteur tinha apenas 28 anos) só foi possível por causa da experiência prévia do cientista com litogravuras – e tem em mãos uma carta em que o possível paralelo entre a química e a arte fica evidente.

“Eu acho que nunca produzi algo tão bem desenhado e tão parecido com o original”, afirma Pasteur em uma correspondência aos pais em 1841, sete anos antes da descoberta da quiralidade, em 1948. Ele comemorava a qualidade de um retrato que havia acabado de terminar – na época, não considerava seriamente a carreira de cientista. “Todos que viram acharam impressionante. Mas eu temo muito uma coisa: que no papel o retrato não fique tão bom quanto na pedra, é isso que sempre acontece.”

A preocupação do jovem artista, com apenas 19 anos, decorria do seguinte: uma litogravura é como um carimbo, que é desenhado com gordura sobre uma superfície de pedra. Terminado o desenho, o autor aplica tinta sobre essa matriz e então pressiona o papel contra ela. O resultado é a transposição da ilustração original – o registro na folha é um espelho perfeito do que estava na rocha originalmente.

Em outras palavras, as obras de Pasteur, como certas moléculas, existiam na versão original e na refletida – o que pode ter desencadeado um momento eureka! que superou de longe, por mera intuição, qualquer pesquisador que tivesse se debruçado sobre o assunto até então.

A história é mais do que plausível: é uma prova de que arte e ciência são uma ótima dupla. Não fosse esse contato inusitado com a litogravura há mais de um século, o desenvolvimento de medicamentos básicos na nossa rotina talvez estivesse algumas décadas atrasado.

Fonte: http://super.abril.com.br/blog/supernovas/pasteur-so-revolucionou-a-quimica-gracas-a-arte/

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