Ferreira Gullar

Ferreira Gullar

23 de dezembro de 2016
por Amanda Cordeiro Ribeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


Nascido em 10 de setembro de 1930, José Ribamar Ferreira, cujo pseudônimo era Ferreira Gullar, utilizou a Arte como instrumento para imortalizar seis décadas de história de nosso país.

Sua extensa e diversificada produção literária e teórica fez do escritor um dos mais importantes poetas e críticos de arte brasileiros da atualidade.

A carreira de poeta foi iniciada após seu desligamento de uma rádio em São Luiz, Maranhão, sua terra natal. A demissão foi motivada pela recusa de Gullar em ler uma nota que apontava um operário morto pela polícia durante um comício, como baderneiro. Contudo, foi justamente esse fato que o motivou na composição do poema O Galo que lhe garantiu o primeiro lugar do concurso de poesias promovido pelo Jornal de Letras.

A premiação foi o estopim para que Ferreira Gullar encontrasse na Arte uma maneira de interagir, a seu modo, com o mundo. Contestador e crítico, o artista, falecido em 04 de dezembro, deixou como legado extensa e diversificada produção teórica e literária capazes de dar conta de fatos e momentos importantes da história do país.  Como descreveu em uma de suas obras, “Meu povo e meu poema crescem juntos. ”.

Defensor do caráter coletivo e didático da Arte, Ferreira Gullar utilizava suas obras para a denúncia, a transformação social e a contestação política. A partir da década de 60, suas produções demonstravam um estado de alta tensão psíquica e ideológica e a forte preocupação com os problemas sociais vividos por grande parte da população brasileira.

Seu caráter transgressor buscava que a poesia rompesse a tendência polarizadora predominante no mundo e que a humanidade desenvolvesse mecanismos harmoniosos de convivência.

O Ato Institucional 5 o impossibilitou de continuar trabalhando no Brasil já que, em sua carreira, não havia mais o limite entre atuação política e produção cultural. Talvez a melhor tradução para este momento da vida do artista esteja retratada na obra Extravio, onde pronuncia: Onde começo, onde acabo, se o que está fora, está dentro como num círculo cuja periferia é o centro?

Retornou ao Brasil em 1977, onde o processo de abertura política remodelava o cenário político e social do país. Neste contexto, viu a política subverter a ideologia e rotulou muitos de seus conceitos como utópicos e declarou: “O socialismo fracassou. O fracasso do sistema foi interno. ”.

O artista cresceu com o povo. E conquistou, na década de 90, reconhecimento por suas obras, tendo sido contemplado com diversos prêmios e homenagens entre os quais o Prêmio Jabuti, o Prêmio Machado de Assis e o Prêmio Camões, além de uma indicação ao Prêmio Nobel de Literatura em 2002. 

Contribuiu para a inovação, levando suas experiências poéticas ao limite da expressão. O livro-poema, depois, o poema espacial, e, finalmente, o poema enterrado, que consiste em uma instalação artística, deram outras formas à poesia.

Imprevisível, lançou em 1996, a biografia de Nise da Silveira, a médica psiquiátrica que era contra o tratamento agressivo oferecido a doentes metais, rompendo com o silêncio a respeito dos tratamentos psiquiátricos.

Acompanhou o processo de massificação da Arte através da televisão e, em parceria com Dias Gomes, expandiu-se através de obras audiovisuais como a As Noivas de Copacabana e Dona Flor e Seus Dois Maridos, entre outros.

Uma trajetória marcada pela imprevisibilidade, como assim definiu ao ocupar a 37ª cadeira da Academia Brasileira de Letras, deixa-nos a lição de que quando não podemos resistir a estrutura que nos rege, a palavra sobrevive e quem sabe, subverte. Sobrevivendo a cultura, o instante seguinte, quem determina somos nós, restando-nos a escolha em calá-lo ou dar a ele, a voz. 

 
Fonte: http://educacao.globo.com/literatura/assunto/autores/ferreira-gullar.html http://www.releituras.com/fgullar_bio.asp http://istoe.com.br/morre-ferreira-gullar-aos-86-anos/ http://escolaeducacao.com.br/melhores-poemas-de-ferreira-gul

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