Luto Coletivo
Explicar às crianças uma fatalidade como a que aconteceu com o avião da Chapecoense é um dos momentos mais difíceis para pais e professores. Se assimilar uma tragédia já é complicado para os adultos, quanto mais para quem está no começo da vida.
A tragédia colombiana é, numericamente, menor do que a realidade de um país violento como o Brasil - estima-se que, todos os dias, 160 pessoas percam a vida de forma violenta no país. Mas tem elementos que, combinados, despertam uma profunda comoção.
“A ordem do nosso mundo foi abalada”, escreveu o filósofo Leandro Karnal, em sua página pessoal, após o acidente. “Estamos todos por um fio e é importante viver plenamente. Os que ficam aprendem com os que deixaram de existir: vamos viver de verdade, sem adiamentos, sem meio termo. A vida segue um pouco mais melancólica. ”
Não é possível proteger as crianças do medo e da dor, mas podemos, sim, ajudá-las a processar esses sentimentos da maneira mais sadia possível.
“Por se tratar de um acidente aéreo envolvendo jovens idealistas, de um time que vivia uma história de ascensão e glória, essa tragédia traz um ingrediente a mais, um sentimento de frustração pelos sonhos não realizados”, pontuou a colunista Cláudia Collucci, colunista do jornal “Folha de S.Paulo.
O papel de pais e professores é fundamental para ajudá-las. Seguem abaixo algumas orientações que podem auxiliar aos pais na condução do entendimento sobre a situação:
1 – Até os quatro ou cinco anos de idade, em geral as crianças ainda não têm consciência plena do que é a morte. Ainda assim, não é recomendado mentir, dizendo que as pessoas vão voltar, ou algo nessa linha. Mais vale dar respostas simples como “foram para um lugar melhor”, ou coisas assim, compatíveis com as crenças religiosas da família. Pode-se educar aos poucos por meio de exemplos da natureza: mostrar que as sementes crescem e se tornam plantas, mas um dia morrem, e tudo se recicla com novas funções no ecossistema.
Crianças a partir de idades entre seis a oito têm uma consciência maior e, nesse caso, não será possível evitar o sofrimento; mas é preciso tranquilizá-las, com paciência, sensibilidade e carinho. Cada criança viverá essa dor do seu jeito.
2 - Estimule a criança a expressar seus sentimentos. Quando é difícil encontrar palavras, vale também desenhar.
3 – Garanta que haverá tempo, na sala de aula, para falar sobre os eventos. No caso do acidente com a Chapecoense, muitas das vítimas eram ídolos. Não há como continuar com a matéria como se nada tivesse acontecido. A escola pode ser um ambiente bem confortável para tirar dúvidas, compartilhar sentimentos e expectativas. As crianças costumam ficar mais à vontade para fazer isso com seus professores, do que com um especialista que não conhecem.
4 – Tranquilize as crianças quanto à própria segurança. É natural que elas fiquem preocupadas com a possibilidade de algo semelhante acontecer com elas ou suas famílias. No caso de acidentes de avião, por exemplo, vale reforçar que são eventos extremamente raros, pois as companhias cuidam de todos os detalhes de segurança com treinamentos e manutenções preventivas.
5 – Reforce as coisas boas que aconteceram, na vida das pessoas, antes de sua morte. Por exemplo, os jogadores do Chapecoense comemoraram grandes conquistas. Podemos mostrar às crianças que aqueles que morrem continuam vivendo nos corações de quem ficou - como tão bem expressou a emocionante homenagem prestada pelos colombianos no estádio do Atlético Nacional.
6 – Retome a rotina, para estimular a capacidade de recuperação, e também porque seguir o curso das atividades normais é bem reconfortante para as crianças.
7– Se perceber que há necessidade, procure um especialista. Alguns sinais de transtorno pós-traumático são: pesadelos constantes com o evento em questão, dificuldade de dormir, recriação das tragédias em contextos de brincadeiras, fazer xixi na cama com frequência, dificuldade de superar a tristeza, apego excessivo aos pais, depressão, dores físicas.