Quando é bom ou ruim ajudar os filhos com a lição de casa?
Uma pesquisa recente da fundação educacional britânica Varkey concluiu que pais brasileiros dedicam uma média de oito horas por semana ajudando os filhos com as atividades escolares - uma hora a mais do que a média global, entre 29 países que participaram do levantamento.
Mais importante do que o tempo, porém, é o modo como os pais participam da vida escolar dos filhos.
A primeira coisa é nunca ceder à tentação de resolver os problemas da tarefa para as crianças, destacam especialistas ouvidos pela BBC Brasil. E lembrar que a lição é um momento de praticar autonomia.
"A tarefa é para o aluno, não para o pai. É de se questionar se ele se envolve demais e com muita frequência na tarefa do filho", diz Silviane Bueno, diretora escolar no Balneário Camboriú (SC). "É o momento em que o aluno se depara sozinho com seu conhecimento, e isso não pode exigir sempre a presença de um adulto."
Dito isso, acrescenta Bueno, os pais têm um papel importante na lição de casa: principalmente para as crianças menores, é ajudar a preparar o ambiente - um local bem iluminado, organizado e silencioso - e a controlar o tempo, "para que o filho não acabe se distraindo e ficando quatro horas fazendo a mesma tarefa".
Silviane Bueno sugere ainda explicar às crianças a importância de limitar o acesso a eletrônicos - celulares e tablets - durante a lição: "As crianças hoje já funcionam no modo 'multitask' (de fazer múltiplas coisas ao mesmo tempo). É importante que o momento da tarefa seja para elas pensarem, sem interrupções de WhatsApp, e usar os eletrônicos apenas para pesquisa".
E se a criança deixou a tarefa para última hora e não vai conseguir terminar sozinha?
Bueno acha que nem sempre os pais devem intervir nesse momento. "Às vezes, deixar que a criança vá à escola sem a tarefa e enfrente as consequências disso é um momento educativo. A frustração faz parte do processo", diz.
Vale lembrar que a lição de casa serve, também, para indicar à escola o que os alunos aprenderam ou não. Mais um motivo para os pais serem cautelosos ao intervir.
Ao mesmo tempo, a especialista afirma que as tarefas de casa podem ser bons ganchos para conversas entre pais e filhos - seja sobre os temas das lições, que podem render bons debates ou leituras em conjunto, seja sobre o cotidiano das crianças na escola.
"A juventude acha que sabe tudo, mas às vezes sua base teórica é o que leu no Facebook. Então quanto mais os pais conversarem, mais deixarão claros seus valores, que serão bases de construção de opinião", prossegue Bueno.
A escola, por sua vez, tem um papel crucial nesse processo: garantir que a tarefa de casa reforce o conteúdo dado em sala de aula de modo estimulante e construtivo, o que nem sempre acontece.
"É algo sobre o qual ainda há pouca reflexão, tanto que há poucos estudos sobre isso", diz Silviane Bueno. "Mas estamos avançando: antes, a lição de casa era usada só para controle - 'aluno fez, aluno não fez'. Hoje, já é vista como um momento importante da aula, que permite a retomada do conteúdo no dia seguinte. "
Maria Amabile Mansutti, coordenadora técnica do Cenpec - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, Cenpec, diz que há muitas formas de participar da vida escolar dos jovens, citando estudos que mostram que até mesmo pais com pouca instrução - e, portanto, com dificuldade em acompanhar a lição de casa - conseguem ser presentes mantendo diálogo constante com os filhos, ensinando-os a se esforçar e cobrando capricho nas tarefas.
Para os pais entrevistados pela BBC Brasil, a tarefa de casa acaba sendo um momento para se manter a par da vida escolar das crianças - e tentar criar laços ainda mais forte com elas.