Supercontrole

Supercontrole

6 de julho de 2018
por Amanda Ribeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


A intenção pode ser das melhores, mas interferência excessiva na vida dos filhos pode limitar importantes habilidades de controle emocional. E isso pode gerar consequências ruins para a vida social e escolar das crianças no futuro. É a conclusão de um estudo sobre “autorregulação infantil” publicado pela Associação Americana de Psicologia, em 18 de junho de 2018. 

“Crianças que não conseguem regular com eficácia suas emoções e comportamento têm mais propensão a manifestar isso na sala de aula, a ter mais dificuldade em formar amizades e na vida escolar”, disse Nicole Perry, do Instituto de Desenvolvimento da Criança, da Universidade de Minnesota Twin Cities, uma das co-autoras do estudo, realizado por especialistas americanos e suíços, em entrevista ao jornal The Independent.

Os pesquisadores avaliaram ao longo de oito anos o comportamento de 422 crianças, de três faixas etárias, nos Estados Unidos e na Suíça. As tentativas das mães de tomar controle de certas tarefas foram classificadas.

Nas avaliações, crianças de dois anos e suas mães foram convidadas a brincar com uma seleção de brinquedos por quatro minutos. Depois, tinham dois minutos para guardá-los. No grupo de crianças com cinco anos, foram medidas as reações diante de uma divisão desigual de doces, além de sua habilidade em solucionar um quebra-cabeça em um determinado tempo. Já a turma de dez anos tinha de responder sobre suas atitudes em relação à escola, aos professores e questões emocionais.

Autorregulação de sentimentos 

O estudo examinou em que nível as mães se envolviam em brincadeiras e diziam à criança o que fazer nestes curtos períodos de tempo. O objetivo era observar relações entre pais excessivamente controladores e a adaptação social, emocional e acadêmica da criança durante a infância e a pré-adolescência. 

De acordo com o levantamento, “autorregulação se refere à habilidade de modular excitação e comportamento no contexto de demandas do meio ambiente”. Esta capacidade de autorregulação pode ser observada por meio de dois aspectos do comportamento: 

  • Regulação de emoções: Definido no estudo como um conjunto de processos que age sobre a intensidade ou valor das experiências emocionais. A capacidade de uma criança de controlar suas emoções pode torná-la mais capaz de lidar e superar tarefas escolares desafiadoras. Também contribui para o domínio de ansiedades diante de desafios sociais e novos grupos sociais, resultando em novas amizades e interações positivas. 


  • Controle inibitório: Trata-se da habilidade de suprimir uma reação automática em favor de uma menos dominante, porém, mais adequada à situação ou tarefa. Segundo o estudo, esse tipo de domínio se traduz em importantes habilidades para o dia a dia. Por exemplo: levantar a mão antes de falar em sala ou inibir a vontade de agir de modo agressivo quando decepcionada por um colega na hora da brincadeira. 

Em geral, os pesquisadores observaram que o envolvimento excessivo de mães podia estar associado a um menor controle das crianças sobre suas emoções e um menor controle sobre seus impulsos ao redor dos cinco anos de idade. 

O ingresso no ambiente escolar costuma trazer uma demanda maior de reprimir pensamentos e comportamentos irrelevantes ou inadequados para que a criança aprenda com mais eficiência e seja bem-sucedida na interação com colegas. 

Para os pesquisadores, ter habilidades nesses dois processos na primeira infância pode ser associado a mudanças em comportamentos e habilidades ligadas ao bem-estar da infância à adolescência. “Portanto, focar na primeira infância como uma época para facilitar o desenvolvimento dessas capacidades regulatórias é importante”, conclui o texto. 

Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/21/Os-reflexos-do-supercontrole-maternal-na-crian%C3%A7a-segundo-este-estudo

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