Supercontrole
A intenção pode ser das melhores, mas interferência excessiva na vida dos filhos pode limitar importantes habilidades de controle emocional. E isso pode gerar consequências ruins para a vida social e escolar das crianças no futuro. É a conclusão de um estudo sobre “autorregulação infantil” publicado pela Associação Americana de Psicologia, em 18 de junho de 2018.
“Crianças que não conseguem regular com eficácia suas emoções e comportamento têm mais propensão a manifestar isso na sala de aula, a ter mais dificuldade em formar amizades e na vida escolar”, disse Nicole Perry, do Instituto de Desenvolvimento da Criança, da Universidade de Minnesota Twin Cities, uma das co-autoras do estudo, realizado por especialistas americanos e suíços, em entrevista ao jornal The Independent.
Os pesquisadores avaliaram ao longo de oito anos o comportamento de 422 crianças, de três faixas etárias, nos Estados Unidos e na Suíça. As tentativas das mães de tomar controle de certas tarefas foram classificadas.
Nas avaliações, crianças de dois anos e suas mães foram convidadas a brincar com uma seleção de brinquedos por quatro minutos. Depois, tinham dois minutos para guardá-los. No grupo de crianças com cinco anos, foram medidas as reações diante de uma divisão desigual de doces, além de sua habilidade em solucionar um quebra-cabeça em um determinado tempo. Já a turma de dez anos tinha de responder sobre suas atitudes em relação à escola, aos professores e questões emocionais.
Autorregulação de sentimentos
De acordo com o levantamento, “autorregulação se refere à habilidade de modular excitação e comportamento no contexto de demandas do meio ambiente”. Esta capacidade de autorregulação pode ser observada por meio de dois aspectos do comportamento:
- Regulação de emoções: Definido no estudo como um conjunto de processos que age sobre a intensidade ou valor das experiências emocionais. A capacidade de uma criança de controlar suas emoções pode torná-la mais capaz de lidar e superar tarefas escolares desafiadoras. Também contribui para o domínio de ansiedades diante de desafios sociais e novos grupos sociais, resultando em novas amizades e interações positivas.
- Controle inibitório: Trata-se da habilidade de suprimir uma reação automática em favor de uma menos dominante, porém, mais adequada à situação ou tarefa. Segundo o estudo, esse tipo de domínio se traduz em importantes habilidades para o dia a dia. Por exemplo: levantar a mão antes de falar em sala ou inibir a vontade de agir de modo agressivo quando decepcionada por um colega na hora da brincadeira.
Em geral, os pesquisadores observaram que o envolvimento excessivo de mães podia estar associado a um menor controle das crianças sobre suas emoções e um menor controle sobre seus impulsos ao redor dos cinco anos de idade.
O ingresso no ambiente escolar costuma trazer uma demanda maior de reprimir pensamentos e comportamentos irrelevantes ou inadequados para que a criança aprenda com mais eficiência e seja bem-sucedida na interação com colegas.
Para os pesquisadores, ter habilidades nesses dois processos na primeira infância pode ser associado a mudanças em comportamentos e habilidades ligadas ao bem-estar da infância à adolescência. “Portanto, focar na primeira infância como uma época para facilitar o desenvolvimento dessas capacidades regulatórias é importante”, conclui o texto.