As Estrelas Brilham na Escuridão

As Estrelas Brilham na Escuridão

27 de outubro de 2009
por Ronaldo Limoeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


Este é um texto que foi trabalhado na nossa Instituição e por sua importância decidimos difundí-lo por toda a nossa comunidade escolar. Boa leitura e sucesso.
​Ronaldo Limoeiro

Por Roberto Shinyashiki, consultor organizacional e autor de vários livro, entre eles A Revolução dos Campeões e O Sucesso é Ser Feliz.

 

Mais importante do que as vitórias é a solidez do trabalho que o levou até elas.

Quando Maria Amália Bernardi me telefonou pedindo um artigo para a revista, lembrei-me de uma frase muito especial que escutei em uma conversa com um mestre zen-budista no Japão e que, desde então, tem orientado a minha vida.

Conversar com mestres zen-budistas não é uma coisa muito simples. Freqüentemente eles falam por metáforas, e seu inglês costuma ser lastimável, com um sotaque que atrapalha mais ainda a compreensão. Isso não é o mais grave. O pior, na verdade, é que suas idéias são, na maior parte das vezes, deslocadas do contexto do diálogo.

Naquela noite, durante nosso encontro, eu estava muito distraído. Deixei de escutá-lo porque estava preocupado com a incômoda idéia de caminhar debaixo da chuva até a estação de Kita Kamakura, antiga capital do Japão, onde pegaria o Shikansen, o trem-bala, com destino a Tóquio. Lá fora, o barulho da tempestade, no gélido inverno japonês, perturbava.

Portanto, quando o mestre surpreendentemente me deu uma capa de chuva e se despediu dizendo “As estrelas brilham na escuridão!”, fiquei muito mais preocupado com a chuva que iria enfrentar do que com a mensagem que acabara de escutar.

Durante o percurso, a chuva e o frio me incomodaram bastante e só pensei na idéia do mestre para desqualificá-la. O sol é uma estrela e brilha na claridade do dia. Isso pode ser poesia demais para um tempo de alta competição, mas a frase ficou latejando em minha mente até o momento que adormeci no calor do quarto.

 

“Roberto: as estrelas brilham na escuridão...”

 No dia seguinte, na aula do meu curso de administração de empresas na Aots (organização sem fins lucrativos que promove a cooperação industrial entre o Japão e o resto do mundo), o tema foi a crise econômica japonesa e os caminhos para superá-la. O professor, naturalmente, comentou sobre a importância de manter os valores e a fé para vencer a tempestade que enfrentavam e que ainda enfrentam. Para ele, o modelo americano de superar crises, tratando as pessoas como objetos descartáveis, era algo desprezível, e a solução a ser encontrada deveria ser a preservação, o respeito e a união das pessoas em torno de seus objetivos. A empresa deve estar unida em tempos de prosperidade e de incertezas. O indivíduo deve manter seus valores mesmo que os resultados não sejam os desejados, porque, logo mais, as vitórias aparecerão.

Ao deixar a aula, comecei a pensar que mais importante que as vitórias é a solidez dos fundamentos. Estes é que são os verdadeiros criadores do sucesso. Desde então, valores, estratégica, disciplina, visão e, principalmente, o trabalho de bastidores têm merecido minha atenção. Quando vejo uma pessoa ser homenageada por suas conquistas, procuro analisar quais são os fundamentos que a levaram ao sucesso e começo a refletir se esse sucesso tem consistência.

Toda vez que escuto a voz do mestre em minha mente dizendo: “Roberto, as estrelas brilham na escuridão...”, penso que a única forma de sucesso que vale a pena é aquela construída pouco a pouco. Quando aceitei fazer este artigo, resolvi escrever sobre os trabalhos de bastidores que mantêm uma estrela como você brilhando no mundo dos negócios.

Cada vez mais, vemos profissionais que têm MBA desempregados e sem perspectivas.  Assistimos à decadência de outros que, seguindo a cartilha da modernidade, foram engolidos pelo furacão da globalização.  Em escala crescente, presenciamos os CEOs de gigantes como AT&T, IBM, Compaq e Americanm Express caírem do topo de suas organizações.

Há algo além do currículo que leva grandes carreiras ao sucesso.  Algo que não está escrito em nenhum manual, mas que o campeão tem dentro de si, e que aquece sua alma.  Um trabalho que deve ser construído fora do olhar da multidão, dos aplausos efêmeros e da glória.  Realizado no silêncio e na escuridão para podermos brilhar na vida.  A maioria das pessoas de sucesso cultiva hábitos que lhes cria um extra diário, que no final da corrida vai representar a diferença.

 

O sucesso é construído à noite.

Durante o dia, a tendência é todo mundo fazer as mesmas coisas. As organizações exigem e ensinam as mesmas coisas a seus funcionários. O comprometimento com as operações diárias forçam os profissionais a uma padronização que tende a desvalorizar o seu trabalho, como aquele mecânico que trabalha 12 horas por dia para a empresa e depois é demitido porque não se atualizou.

A diferença, geralmente, é criada depois do expediente. São as leituras e discussões que você faz depois que as luzes do escritório se apagam.  Como aquele extra do Gustavo Borges a cada treino.  Aquele acréscimo de 0,001 segundo em cada braçada é que vai garantir a medalha de ouro.  O esforço invisível que ninguém aplaude, pois a maioria não consegue enxergar.

Não é simplesmente o estudo, mas também a elaboração do conhecimento, capaz de somar habilidades e visão de mundo.

 

As crises pessoais exigem luz própria para enfrentar as incertezas.

 Algumas atrizes se acomodam quando não estão escaladas para nenhuma novela.  Atletas no banco de reserva tendem a despreocupar-se em relação ao seu preparo físico e mental e, ao ganhar uma oportunidade, não estão preparados.

O campeão é aquele que mantém o “gás” mesmo quando os resultados não são os esperados.  Eles criam objetivos e não deixam que derrotas provisórias abalem a sua fé na vitória.

É na fase de desemprego que o verdadeiro campeão prepara a sua guinada definitiva.  Em momento de crise pessoal, o autêntico profissional analisa as novas oportunidades, revoluciona sua carreira e mergulha de cabeça numa nova decisão.

Ninguém entra em crise por vontade própria: o governo desvaloriza o real, a empresa decide fechar a fábrica na qual você trabalha, a sua mulher (ou marido) decide abandonar o casamento...  Crises fazem parte da vida.  É a sua atitude diante dos problemas que determinará a saída.  Os perdedores se sentem vítimas do destino e transformam sua dor em ressentimento.  Os vencedores aproveitam os problemas para mudar a vida para melhor.

No último campeonato de Roland Garros, ao ganhar por 3 sets a 2, André Agassi, que estava perdendo por 2 a 0, fez o seguinte comentário: “O maior trabalho que tive durante a partida foi me tirar da minha distração. Os dois primeiros sets eu perdi para mim, para a minha insegurança. Quando voltei a me concentrar no jogo, as coisas deram certo”.

O único adversário que vale a pena enfrentar está dentro da gente.

Nos períodos escuros, os campeões sobressaem.

Nos períodos de crescimento, é mais fácil administrar carreiras e empresas. A economia cresce leva adiante a maioria das organizações, e conseqüentemente, seus funcionários.  Isso acaba criando uma ilusão de que a pessoa está crescendo e aproveitando as oportunidades.  Agora que a economia se aquece novamente, muita gente vai se distrair achando que tudo voltou ao que era no passado.  Porém, para quem vive de ilusões, a realidade pode se tornar dolorida.

Ocasiões incomuns são ótimas oportunidades para os campeões.  Ayrton Senna esfregava as mãos de alegria quando chovia, pois era sua chance de mostrar que era o melhor, mesmo com um carro inferior.  Agora estamos assistindo ao mesmo fenômeno com Michael Schumacher.  Os campeões aproveitam as crises, pois sabem se fortalecer em meio à turbulência, sobressaindo.

Ninguém está comprando?  Visite seus clientes para conhecê-los melhor. Invista para criar novos produtos.  Reforme a loja.

Se os negócios estão difíceis, é o momento de reavaliar suas estratégias, sua carreira.  Assim você estará preparado para conquistar o mercado e reaquecer as vendas.

Lembra-se de quando Assis Chateaubriand montava sua emissora de televisão e todos faziam chacota de sua ingenuidade?

 - Chatô, mas ninguém no Brasil tem aparelho de televisão!

 Ao que Chateaubriand respondia:

 - Quando eles chegarem vão encontrar a minha emissora de televisão pronta.

 Assim iniciou-se a TV Tupi, um dos pilares de construção do maior império brasileiro de comunicações de que se tem notícia.

 

Faça o certo mesmo que ninguém veja.

 Muitas vezes a empresa não exige que você utilize todos os seus conhecimentos.  Seu chefe é condescendente com os erros.  Ninguém valoriza um trabalho especial, e a tendência das pessoas é fazer tudo de qualquer jeito, já que não existem exigências e estímulos.  Enquanto luta para que a empresa o valorize, mantenha sempre o padrão de seu trabalho.  Exija sempre o máximo de você.  Essa é a postura de quem tem garra.  Daquele que dá o sangue pelo prazer de se superar, mantendo seus valores mesmo em situações adversas. A ética é um pilar imprescindível.  Seja uma pessoa íntegra, mesmo que sua empresa não exerça controle sobre suas negociações ou que você não tenha vitórias a curto prazo.

 

Mantenha-se calmo mesmo que o mundo esteja explodindo ao seu redor.

O ambiente de trabalho é cada vez mais agitado e é muito fácil se contaminar com esses caos.  Muitas pessoas confundem velocidade com agitação. Velocidade nasce da capacidade de resolver problemas e realizar metas.  Agitação é a sensação de incapacidade diante de dificuldades.

Quando as coisas estiverem dando errado, e isso acontece com freqüência, precisamos respirar fundo e aceitar as crises como parte de nosso dia-a-dia, mantendo a direção e focando os objetivos, sempre.  Na Índia, os mestres chamam esse estado de “permanência no olho do furacão”.  Dizem que no centro do furacão tem um lugar onde a paz é absoluta. E é nesse lugar que você deve procurar estar.

Quando todo mundo explodir, é necessário se concentrar, analisar a situação. Chamar o pessoal para uma conversa e lembrar que logo adiante as coisas vão melhorar, as opções para contornar a maré aparecerão.

Mantenha sempre sua auto-estima independentemente dos aplausos dos outros. A maioria das pessoas tem se perdido porque somente se sente importante quando aplaudida. Talvez essa seja a maior fonte de sofrimento nos tempos atuais: a identificação da sua importância com o valor que os outros lhe dão.

Muita gente procura manter sua auto-estima rebaixando os outros.  O pai que grita com os filhos, o chefe que ameaça demitir funcionários porque se sentem confusos.  Há ainda aqueles que gostam de mostrar sua importância pelos bens que possuem.  Esses objetos constróem uma ilusão passageira, que somente cria maior dependência. Assim como uma droga, só tem efeito passageiro.

 Por isso, ao lembrar das palavras “as estrelas brilham na escuridão”, sei que o currículo, por si só, não pode conquistar uma vaga. Quem tem que agarrá-la e mantê-la é você.

Fonte: Por Roberto Shinyashiki – Revista Você S.A. Agosto de 1999

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