Concentração se aprende?
Tudo ao nosso redor serve para nos distrair. As ferramentas existentes para "roubar" nosso tempo estão cada vez mais interessantes. As novas tecnologias nos tomam horas que poderiam ser investidas em outros "trabalhos". Mas a culpa não é delas. A culpa é do seu cérebro, que não aprendeu a se concentrar ...
Felizmente, concentração é questão de esforço e disciplina. É possível você treinar seu cérebro para focar em uma única tarefa por mais tempo, do mesmo jeito que se pode treinar o corpo para fazer musculação.
A dificuldade:
Não há nenhuma maneira científica de medir essa forma prolongada de atenção que nós chamamos de concentração. Isso porque ela não é tarefa de uma área específica, mas de um conjunto de sistemas que envolve o cérebro inteiro. O que a neurociência já sabe é que se trata de um processo de escolha do que é importante.
Concentração é a capacidade do nosso cérebro de eleger um foco e ignorar todos os demais estímulos ao redor. E isso, não é tão fácil assim. Nosso cérebro não foi moldado pela evolução para passar muito tempo focado no mesmo assunto. Nossos parentes evolutivos - outros mamíferos, aves e répteis - precisavam sempre tomar decisões rápidas. Fugir de um predador, caçar, procurar abrigo. Para ativarmos essa capacidade, precisamos acionar o neocórtex - parte mais evoluída do cérebro, responsável pelas decisões a longo prazo.
"Felizmente nosso cérebro se adapta facilmente ao que aprendemos. Por isso é possível treinar a capacidade de concentração", diz David Schlesinger, neurocientista do Hospital Albert Einstein. Ele se refere à plasticidade do cérebro, aquela capacidade dos seus neurônios de se redistribuir de acordo com a necessidade e o treino. Aliás, talvez você não saiba, mas ao ler esse artigo já está treinando a concentração.
A genética:
Assim como outros traços de personalidade, a habilidade de se concentrar varia de uma pessoa para outra. Para os neurologistas, boa parte da capacidade de se concentrar vem marcada no seu DNA.
Mas não vale culpar a natureza: distrair-se com facilidade não é uma sentença de fracasso. Boa parte dos psicólogos, por exemplo, acredita que a concentração não é inata, mas algo que pode ser ensinado ao longo da vida. "É uma característica cultural, construída com o aprendizado", diz a psicóloga Marilene Proença, professora da Universidade de São Paulo. "É necessário treinar o foco desde cedo"
Tudo pode depender ainda do grau de exigência que você se impõe. É fato: todos temos cada vez mais informações para absorver. O que pressupõe também mais dificuldade para nos concentrar e reter cada uma delas. Mas não é exatamente isso que pesquisas revelam. Alguns especialistas acreditam, por exemplo, que nosso cérebro tem "memória" excedente para arquivar todas as informações recebidas em, por exemplo, 45 minutos de aula.
Assim como, acreditam que a falta de concentração não advém de "pensamentos lentos". Alguns cientistas acreditam no contrário: "Somos mais rápidos para pensar do que para ler. Por isso temos dificuldades para focar em ler um livro, por exemplo. Nossa mente busca preencher o espaço vazio com várias informações", afirma Ivan Okamoto, Doutor em neurologia pela Universidade de São Paulo.
Como praticar a concetração:
Algumas atitudes são essenciais para quem busca a concentração:
- Ambiente: ambientes tranquilos, com poucos estímulos ajudam a manter a concentração. Celular, televisão e internet são inimigos da concentração;
- Organização: criar uma rotina, fazer listas com as prioridades do dia, aprender a se organizar e reservar horários para resolver cada coisa de uma vez também ajudam a manter o foco. "Você ficaria surpreso com o volume de coisas em que consegue pensar e resolver em apenas um dia", afirma David Allen, autor do livro A Arte de Fazer Acontecer;
- Estímulos: assistir a filmes e desenhos animados ao lado do filho; brincar de jogo da memória dentro da faixa etária da criança; desenhar; ensinar-lhes jogos de tabuleiro como dama e xadrez; quebra-cabeças e jogos de montar são formas de incentivar a concentração de crianças pequenas. A leitura também é um excelente exercício;
- Atitudes: conversar olhando nos olhos da criança e prestar atenção nas suas falas. Esta é uma forma de descobrir o quanto é importante e prazeroso dar e receber atenção. É bom lembrar que, muitas vezes, comportamentos atípicos em crianças, são justificados pela necessidade de maior atenção dos responsáveis;
- Colaboração: nos horários de estudo, a família pode colaborar evitando interromper a leitura, desligando rádio e televião e evitando fazer barulho. Quando seu filho estiver concentrado assistindo um desenho ou programa de televisão, não mude de canal sem avisá-lo.
Seja qual for o método, em uma coisa todos os especialistas concordam: a concentração é uma capacidade que pode sempre ser aprimorada. Se você conseguiu se concentrar o bastante para ler esse artigo até aqui de uma vez só, provavelmente sabe disso. Se você começou, parou, voltou ou já pulou direto para esta parte, tudo bem também: nunca é tarde para retornar ao começo e tentar de novo. Da próxima vez, quem sabe, um pouco mais concentrado.
Thomas Edison - O mais fértil inventor de todos os tempos
Decididamente, o professor não gostava dele. "O garoto é confuso da cabeça, não consegue aprender", queixava- se o reverendo Engle daquele menino de 8 anos, agitado e perguntador. Os cabelos eternamente despenteados, se recusava a decorar as lições, como faziam todos os alunos e ainda por cima ouvia mal.
Assim, o professor definiu Thomas Alva Edison e encerrou, após 3 meses, a carreira escolar do inventor.
Sorte que o comportamento do aluno não era sinônimo de falta de inteligência, mas sim, de excesso de curiosidade.
Entretanto, o excesso de curiosidade quase lhe custou sua glória. Assim, o inventor relatou em uma edição do New York Times, de 1910.
O inventor não tinha rotina, foco, disciplina e concentração para desenvolver todas as ideias que desejava. Trabalhava desde os 15 anos como telégrafo e combatia o tédio passando trotes; assim, quando não se demitia, acabava demitido.
Aos 21 anos, telegrafista em Boston, morando num quarto de pensão transformado num misto de biblioteca e laboratório, resolveu “arregaçar as mangas”. A partir daí, produziu e patenteou mais de 2 mil invenções, tendo destaque notório para o desenvolvimento tecnológico e científico da época.
Entrou para a História com a frase "Gênio é 1 por cento inspiração e 99 por cento transpiração" e pelo exemplo de que a falta de concentração humana pode ser superada, muito bem superada.