Entrevista

Entrevista

20 de outubro de 2016
por Amanda Cordeiro Ribeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


Jitman Vibranovski é ator, professor, autor e diretor. Com participações em novelas como Chiquititas e Êta mundo bom, o multiprofissional dedica-se ao teatro terapêutico desde 2000.

E é no teatro educativo que aborda temas urgentes da sociedade: uso abusivo de álcool e drogas, AIDS, ética, tabagismo, ambientalismo, qualidade de vida, questões da mulher e da terceira idade, acidentes de trabalho, gravidez na adolescência, problemas cardiovasculares e compulsão, como jogos e consumismo.

Utilizando como estratégia a emoção e as próprias limitações de cada ser humano, busca desenvolver a consciência. O teatro promove a experimentação de sentimento e outras manifestações de forma segura, por isso, é propício para uma ação preventiva e educativa sobre o tema das drogas.

O Teatro Institucional promoverá uma peça seguida de debate para os alunos do 1º e 2º ano do Ensino Médio, no dia 1º de novembro. A atividade integra o Projeto Prevenção de uso de Drogas do Colégio.

O Prof. Jitman Vibranovski concedeu-nos uma breve entrevista esclarecendo alguns tópicos sobre o tema. Confira:

 

1.Os pesquisadores Aléssio de Almeida e Ignácio Júnior da Universidade Federal da Paraíba correlacionaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada pelo IBGE, com o desempenho escolar de alunos na faixa etária entre 13 e 15 anos. Uma das conclusões do estudo é que os colegas de turma têm forte influência na decisão individual da criança na adoção de posturas de riscos (uso de álcool e drogas).Como os pais devem administrar a necessidade de sociabilização necessárias à adolescência com as possíveis amizades que influenciam as posturas de risco?

Jitman: Baseado nas quase mil apresentações já realizadas pelo O Teatro Institucional, companhia de teatro que dirijo juntamente com Paulo Antunes, também ator, diretor, arteterapeuta especializado em dependência química, escrevi o livro “Quem não tem problema com droga?“. Sempre após cada apresentação, fazemos um debate com a plateia. Nesse livro, respondemos às principais questões surgidas. E essa é uma das questões. Indicamos que, desde muito cedo, a criança precisa ter confiança nos pais, que pode fazer qualquer pergunta e que será sempre bem acolhida. Os pais devem trazer informação e quando não a tiverem, pesquisar junto com seus filhos.
 
Em um desses debates, um garoto com seus doze anos, muito timidamente nos perguntou sobre o que fazer quando oferecerem drogas para ele. Eu perguntei a ele se já tinham oferecido. Ele disse, mais timidamente ainda, que sim. Tive a impressão de que ele não tinha coragem de fazer essa mesma pergunta em casa.
 
É preciso desmistificar a droga. É preciso conhecer suas causas e consequências. 
 
Indico para os pais que estabeleçam um clima de confiança e procurem se informar sem preconceitos. Limite e afeto também são fundamentais, naturalmente.

 

Também temos esse senso comum de dizer que nossos filhos sofreram a influência das péssimas companhias. Sim, é verdade. Mas a socialização é necessária. Não criamos os filhos para viverem numa redoma. Criamos para o mundo. Devemos apetrecha-los para vivê-lo da maneira mais plena possível.
 
E como somos também humanos, falhamos. Então, com humildade, também devemos aprender. 

 

2. A publicidade engatilha um processo de frustração nas pessoas. Com o advento da Internet, ficamos ainda mais expostos a elas. Como esse processo de frustração colabora para o consumo de drogas? 

Jitman: É difícil ter um olhar crítico para a publicidade. Somos todos presas fáceis dela. O desenvolvimento acelerado da sociedade de consumo obriga as pessoas a consumirem cada vez mais. E aquilo que não coneguimos adquirir, gera frustração.

Primeiro precisamos nós, pais e educadores, aprender a ter olhar crítico para a publicidade e ensinar isso aos jovens.

Somos uma sociedade que não consegue conviver com a dor. À mínima dor de cabeça tomamos um remédio. À mínima insônia tomamos um comprimido para dormir. Se ficamos triste tomamos um remédio para a depressão. Claro, ninguém quer sentir dor. Mas ela é necessária ao crescimento. Com ela, podemos olhar para os nossos erros e dificuldade e procurar fazer diferente. Tive um cliente alcoólatra que tinha insensibilidade à dor na perna por causa de um tiro. Um dia, bêbado, pisou num caco de vidro e rasgou o pé. Como não sentia dor e bêbado, só foi perceber quando a única solução possível era amputar a perna.

Assim, agimos muitas vezes na vida. Buscamos subterfúgios para nossas dores ou problemas e quando resolvemos tratá-los, é tarde.

Não queremos que nossos filhos sofram, mas todos sabemos que “crescer dói”.

3.O teatro é um espaço seguro. Através do teatro terapêutico podemos chegar mais próximos das nossas limitações. Propiciar espaços para nos “encontrarmos” com nossas emoções e nossos desejos através da Arte e da cultura podem reduzir o risco de adesão às drogas?

Jitman: Sim, com certeza. Não só o teatro como todas as artes. A arte em si, é terapêutica. Para quem faz, para quem aprecia.

Uma vez fizemos uma camiseta com os dizeres: “Contra compulsão, criação”.

Parece que na vida temos sempre um buraco à nossa frente. Alguma coisa que precisamos ultrapassar. Pode ser o desejo de ter uma carreira, ou o desejo por alguém... enfim, tudo o que queremos realizar em nossas vidas. Esse buraco pode ser chamado de angústia. E é ela que nos leva para a frente. 

Podemos ir resolvendo essa angústia, nos anestesiando com vários tipos de compulsões: compulsão nas compras, no sexo, nas drogas, etc.

E podemos construir pontes para atravessar esses buracos. E a arte é uma bela ponte, com certeza .

Sou suspeito para falar do teatro porque é a minha arte. Mas considero o teatro a mais viva arte. Acontece ali, na nossa frente. E é efêmero como a própria vida. Podemos até fotografá-lo, até filmá-lo, mas aí já é outra arte.

 
 
 

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