Entrevista
Jitman Vibranovski é ator, professor, autor e diretor. Com participações em novelas como Chiquititas e Êta mundo bom, o multiprofissional dedica-se ao teatro terapêutico desde 2000.
E é no teatro educativo que aborda temas urgentes da sociedade: uso abusivo de álcool e drogas, AIDS, ética, tabagismo, ambientalismo, qualidade de vida, questões da mulher e da terceira idade, acidentes de trabalho, gravidez na adolescência, problemas cardiovasculares e compulsão, como jogos e consumismo.
Utilizando como estratégia a emoção e as próprias limitações de cada ser humano, busca desenvolver a consciência. O teatro promove a experimentação de sentimento e outras manifestações de forma segura, por isso, é propício para uma ação preventiva e educativa sobre o tema das drogas.
O Teatro Institucional promoverá uma peça seguida de debate para os alunos do 1º e 2º ano do Ensino Médio, no dia 1º de novembro. A atividade integra o Projeto Prevenção de uso de Drogas do Colégio.
1.Os pesquisadores Aléssio de Almeida e Ignácio Júnior da Universidade Federal da Paraíba correlacionaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada pelo IBGE, com o desempenho escolar de alunos na faixa etária entre 13 e 15 anos. Uma das conclusões do estudo é que os colegas de turma têm forte influência na decisão individual da criança na adoção de posturas de riscos (uso de álcool e drogas).Como os pais devem administrar a necessidade de sociabilização necessárias à adolescência com as possíveis amizades que influenciam as posturas de risco?
2. A publicidade engatilha um processo de frustração nas pessoas. Com o advento da Internet, ficamos ainda mais expostos a elas. Como esse processo de frustração colabora para o consumo de drogas?
Jitman: É difícil ter um olhar crítico para a publicidade. Somos todos presas fáceis dela. O desenvolvimento acelerado da sociedade de consumo obriga as pessoas a consumirem cada vez mais. E aquilo que não coneguimos adquirir, gera frustração.
Primeiro precisamos nós, pais e educadores, aprender a ter olhar crítico para a publicidade e ensinar isso aos jovens.
Somos uma sociedade que não consegue conviver com a dor. À mínima dor de cabeça tomamos um remédio. À mínima insônia tomamos um comprimido para dormir. Se ficamos triste tomamos um remédio para a depressão. Claro, ninguém quer sentir dor. Mas ela é necessária ao crescimento. Com ela, podemos olhar para os nossos erros e dificuldade e procurar fazer diferente. Tive um cliente alcoólatra que tinha insensibilidade à dor na perna por causa de um tiro. Um dia, bêbado, pisou num caco de vidro e rasgou o pé. Como não sentia dor e bêbado, só foi perceber quando a única solução possível era amputar a perna.
Assim, agimos muitas vezes na vida. Buscamos subterfúgios para nossas dores ou problemas e quando resolvemos tratá-los, é tarde.
Não queremos que nossos filhos sofram, mas todos sabemos que “crescer dói”.
3.O teatro é um espaço seguro. Através do teatro terapêutico podemos chegar mais próximos das nossas limitações. Propiciar espaços para nos “encontrarmos” com nossas emoções e nossos desejos através da Arte e da cultura podem reduzir o risco de adesão às drogas?
Jitman: Sim, com certeza. Não só o teatro como todas as artes. A arte em si, é terapêutica. Para quem faz, para quem aprecia.
Uma vez fizemos uma camiseta com os dizeres: “Contra compulsão, criação”.
Parece que na vida temos sempre um buraco à nossa frente. Alguma coisa que precisamos ultrapassar. Pode ser o desejo de ter uma carreira, ou o desejo por alguém... enfim, tudo o que queremos realizar em nossas vidas. Esse buraco pode ser chamado de angústia. E é ela que nos leva para a frente.
Podemos ir resolvendo essa angústia, nos anestesiando com vários tipos de compulsões: compulsão nas compras, no sexo, nas drogas, etc.
E podemos construir pontes para atravessar esses buracos. E a arte é uma bela ponte, com certeza .
Sou suspeito para falar do teatro porque é a minha arte. Mas considero o teatro a mais viva arte. Acontece ali, na nossa frente. E é efêmero como a própria vida. Podemos até fotografá-lo, até filmá-lo, mas aí já é outra arte.