Há como recuperar o sono perdido?

Há como recuperar o sono perdido?

30 de setembro de 2009
por Ricardo Abrate Luigi Junior -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


Por Denise Dalla Colletta

Ontem você foi deitar super tarde por causa do trabalho ou de uma festa. Hoje acordou cedo para correr e fazer o dia render. Agora está morrendo de sono e se esforçando para ficar acordado. Mas tudo bem, no final de semana, é só dormir o dia inteiro para recuperar aquelas horas perdidas de cama. Bem, isto era o que o senso comum dizia.

 

Mas nada é tão simples quando se trata de corpo humano. A bióloga Camila Santa Cruz Guindalini é responsável por uma pesquisa do Instituto do Sono que fala justamente dos efeitos das noites mal dormidas. Segundo ela, quando nosso corpo é privado daquelas últimas horinhas de sono a expressão de alguns de nossos genes é alterada. “Descobrimos que a privação de sono além de alterar diversos comportamentos, como o sexual e o metabolismo, também altera a manifestação dos genes.”

Como foi feito o estudo?
O objetivo foi avaliar os efeitos genéticos da insuficiência de sono. Os pesquisadores privaram alguns ratinhos de laboratório da principal parte do sono durante 96 horas, a fase REM (rapid eye movement). O sono é dividido em fases: 1, 2, 3, 4 e REM. É justamente nesta última fase que sonhamos e suspeita-se que ela seja responsável pelo bom funcionamento de vários processos do corpo.

Os ratos usados na pesquisa dormiam sobre uma plataforma. “Uma das características de que o corpo atingiu a fase REM durante o sono é a atonia muscular”, ou seja, o corpo perde a rigidez, diz Camila. Isto significa que o infortunado ratinho perdia o equilíbrio na plataforma e caía na água. Assim, ele nunca atingia a essa parte última do sono.

Depois de passarem 96 horas nesse dorme-cai-dorme, os bichos ficavam livres para dormir o quanto quisessem por um dia inteiro. E então os pesquisadores analisavam os animais comparando-os com outros que dormiram normalmente.

Os pesquisadores avaliaram os genes do córtex cerebral, aquela parte responsável por uma serie de coisas como memória, aprendizado, atenção e controle biológico, por exemplo. “Extraímos o córtex e avaliamos a expressão genômica global (de todos os genes do rato de uma vez). É como se tirássemos uma foto da atividade cerebral no momento e comparamos os níveis de expressões”, explica Camila.

 

O resultado foi que os ratos tiveram 78 genes alterados depois da privação de sono. Destes, somente 62% voltaram ao normal após a compensação do sono.

Os genes em si não se modificam, o que muda é sua expressão. Cada gene é responsável pela produção de proteínas específicas para o corpo. Segundo a bióloga, os que se alteraram com esse processo foram “os que estão relacionados ao metabolismo hormonal, neurotransmissão, proteção contra estresse oxidativo e genes de resposta rápida”.

Mas não sou rato de laboratório que dorme e cai na água

Ok, mas isso pode ter muito a ver com você. O período de REM concentra-se  na segunda metade da noite de sono. “A quantidade ideal de sono varia de pessoa para a pessoa. Mas fizemos uma pesquisa na cidade de São Paulo e descobrimos que as pessoas tendem a dormir de 6 a 7 horas durante a semana e, durante o final de semana, dormem em torno de 8 horas a 8 horas e meia”, conta a pesquisadora. 

No ritmo de vida atual, quem nunca dispensou algumas horinhas de sono para poder fazer alguma coisa? “O que geralmente acontece é que as pessoas vão dormir muito tarde e acabam acordado muito cedo.” Quem faz isso, assim como os ratinhos, perde a última e principal fase do sono. O problema é quando isso acontece sempre: “os seres humanos que são privados de sono cronicamente podem ter resultados significativos”.

 

Veredicto:  tirar o atraso no final de semana, não funciona!

E agora?

Você já sabe que não pode perder aquelas últimas horinhas de sono, mas não adianta ter noites de insônia achando que vai ter todos os genes alterados. Perto dos cerca de 25 mil genes que temos, 78 é um número pequeno, mas relevante. “A privação causa efeitos genéticos e eles são tão importantes que os genes podem demorar para voltar ao normal”. No entanto, pode ser que volte depois de vários dias de sono normal. “Fizemos um experimento com ratas que só depois de 10 dias tiverem ciclo menstrual de volta ao normal”.

Hoje, o Instituto do Sono faz pesquisas de privação do sono com humanos. Os ratos tinham que ser sacrificados para a análise do genoma do córtex cerebral. Nas pessoas “vamos avaliar a expressão dos genes pelo exame de sangue, porque sabemos que há uma conexão, esperamos encontrar alterações também”, diz a pesquisadora.

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG87114-7833-218,00-HA+COMO+RECUPERAR+O+SONO+PERDIDO.html

Fonte: Revista Galileu - Edição 218 - Setembro de 2009.

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