Mudanças climáticas

Mudanças climáticas

7 de abril de 2006
por Ronaldo Limoeiro -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


AMÉRICA DO SUL

Cientistas dizem que, em cinco anos, mudanças climáticas podem acabar com diversão na neve em Chacaltaya


Bolívia quer salvar sua única pista de esqui

DA REUTERS

A passagem do tempo tem sido dura para o mais alto ponto de esqui do mundo - 5.300 metros acima do nível do mar -, nos Andes Bolivianos. As geleiras do lugar estão derretendo tão rapidamente que a neve sintética é vista hoje como a única maneira de salvar a atividade.
Cientistas dizem que as pistas de esqui de Chacaltaya podem desaparecer dentro de cinco anos devido a mudanças climáticas, e embora esse parco centro de prática de esqui não seja uma Whistler, no Canadá, ou uma Chamonix, na França, ele é o único que o país sul-americano possui.
As fotos em preto-e-branco nas paredes do alojamento do centro de esqui, mostrando os dias gloriosos de Chacaltaya, deixam uma sensação de nostalgia. "Todo ano, nós vínhamos aqui para ver rochas onde costumava haver neve", afirma Bertha Acarapi.
"Tem sido o nosso pior ano. É muito triste", diz Samuel Mendoza, do Clube Andino Boliviano. "Queremos trazer neve artificial para cá. Assim poderemos manter a prática de esqui, para que esse esporte não morra na Bolívia."
O rudimentar teleférico de Chacaltaya é o mesmo desde os tempos da fundação do clube, em 1939, e o que mais se aproxima de um "après-ski" é o chá feito de folha de coca -aconselhado para pessoas que tenham mal-estar por conta da altitude.
Esquiadores de Chacaltaya afirmam que o ar rarefeito é um algo a mais. "É fantástico esquiar nessa altitude", diz Franklin Mendoza, um campeão nacional, antes de esquiar em um domingo de março, perto do final da temporada.
"A altitude não é um problema", diz Alfredo Martinez, um veterano de 70 anos no clube. "Eu já esquiei em Chamonix, e lá você não consegue a mesma neve pulverizada que achamos aqui."

Mudanças climáticas
Mas nem mesmo o poder da altitude de Chacaltaya pode salvá-la da fúria dessa mudança climática, embora ainda não esteja claro se o gelo está derretendo tão rapidamente por conta do aquecimento global ou pela proximidade de cidades que não param de crescer, como El Alto e La Paz, a cerca de 30 km. O calor emitido pelos veículos dessas cidades, pela indústria e por outras atividades humanas está atingindo a geleira.
"Não há dúvida de que isso é um resultado da ação humana", afirma Alfonso Velarde, diretor do Instituto de Investigações Físicas da Universidade Mayor de San Andres, em La Paz. Velarde diz que a geleira de Chacaltaya diminuiu cerca de 80% nos últimos 15 anos, e especialistas acreditam que, nessa velocidade, a geleira vai sumir em quatro ou cinco anos.
"A geleira de Chacaltaya é muito pequena, e as rochas ao redor dela se aquecem também. Por isso o descongelamento é muito rápido", diz Jaime Argollo, do Instituto de Investigação Geológica da mesma universidade. "Às vezes, a neve ganha volume, mas o balanço é sempre negativo."
Argollo e seu time internacional afirmam que um padrão similar de aquecimento está em curso nos Andes e que dentro de 80 anos pode não haver mais geleiras na cadeia que se estende pela América do Sul. Para ele, a diminuição das geleiras na Bolívia pode causar mais problemas. "Para a cidade de La Paz isso preocupa, porque a água das geleiras é fonte de água potável e também é usada para gerar energia elétrica."

Fonte: Folha de São Paulo, Caderno de Turismo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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