A história dos palitos de dentes

A história dos palitos de dentes

9 de setembro de 2009
por Ricardo Abrate Luigi Junior -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


"Um dos mantras do capitalismo é ‘criar dificuldades para vender facilidades’. Nem sempre é fácil. Pegue-se, por exemplo, a necessidade de manter os dentes livres de sujeira, fiapos e outros resíduos nojentos. Para resolver esse problema prosaico, a humanidade passou a maior parte de sua história se virando com gravetos, espinhos, ossos e lascas de bambu. Diante da oferta de gêneros tão variados – muitos até gratuitos -, como alguém nos convenceu de que precisávamos comprar um apetrecho específico para a higiene bucal?

A resposta: com propaganda em quantidade e qualidade. Abusando desse ingrediente, o americano Charles Forster tornou-se o primeiro fabricante de palitos de dentes em escala mundial. Durante uma viagem a Pernambuco, ele ficou fascinado pelos belos dentes das brasileiras. O segredo é que elas faziam a higiene bucal usando palitos de salgueiro, uma árvore de galhos longos e finos (escovas de dentes já existiam, mas seu uso ainda era muito recente e pouco divulgado).

Percebendo que poderia monopolizar um mercado que nem existia, Forster contratou um inventor para criar uma máquina que produzisse lascas de madeira uniformes. Em 1870, sua fábrica já produzia palitos bons e baratos, a uma quantidade superior a 1 milhão por dia. Faltava vender aquela tralha toda. Sua tática foi tão engenhosa quanto simples: contratou rapazes e garotas estudantes da Universidade de Harvard para irem comer no restaurante mais descolado de Boston, o Union Oyster House e, em seguida, pedir em voz alta: ‘Por favor, palitos! Não tem? Mas como?’ Depois de alguns dias, bela coincidência, Forster entraria no lugar oferecendo sua mercadoria. O cara não parava por aí: quando vendia um lote de palitos, o negociante mandava pessoas ir comprá-los. E aí, os revendia novamente, aumentando ao mesmo tempo a oferta e a procura.

Daí para o sucesso, com o perdão do trocadilho, foi dois palitos. Os produtos de Forster garantiram lugar em bares e restaurantes e fizeram dele um milionário. Depois de sua morte, em 1901, seu filho Maurice tomou as rédeas do negócio de palitos e mostrou-se tão habilidoso quanto o pai, chegando a comprar todo o estoque de alguns concorrentes. A empresa seguiu independente até 1992, quando se rendeu à onda de fusões e passou pelas mãos de diversos donos. Hoje, os palitos Forster pertencem ao conglomerado americano Jarden, mas não são mais feitos na velha fábrica no estado de Maine. Na caixinha atual, lê-se um made in China, escrito em letras miúdas" (por Ayrton Mugnaini Jr).

 

Palitos Gina:

No Brasil, uma marca de palitos se tornou mais famosas que as demais, a Gina, criada em 1947. Gina era o apelido de Dona Regina, mãe dos primeiros donos da empresa. Mas foi somente em 1975 que ficou decidido ilustrar a embalagem com a foto da dona Regina. No entanto, por um motivo não muito esclarecido, ao invés de pôr a foto da própria mãe, os donos da empresa contrataram os serviços de uma modelo profissional. Foi chamada a então famosíssima Zofia Burk, uma polonesa que na década de setenta era uma das modelos mais requisitadas do país. Burk aceitou, fez a foto e seu rosto até hoje é associado a esse trabalho.

 

O fim do palito?

Em São Caetano do Sul, um projeto de lei municipal, apresentado em 29 de abril de 2009, tem por objetivo eliminar o uso de palitos de dentes nos estabelecimentos comerciais, incentivando o uso do fio dental. Segundo o vereador Joel Fontes (PMDB), "muitos problemas bucais têm origem no uso do palito de dente, destacando-se a proliferação de bactérias e a endocardite bacteriana". Além disso, ele cita "a desagradável sensação de observar uma pessoa palitando os dentes à mesa".

 

Saiba mais

Fonte: Adaptado de Revista SuperInteressante, edição 250, março de 2008.

Compartilhe:
Facebook Tweet