Caxumba

Caxumba

27 de agosto de 2015
por João Marques -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


 

A Subsecretária de Atenção Primária e Vigilância em Saúde do município do Rio de Janeiro, Drª Betina Durovni, médica infectologista, concede entrevista para esclarecimentos a comunidade escolar sobre prevenção contra a caxumba.

1- Existe uma epidemia de caxumba no bairro do Recreio dos Bandeirantes? Em caso afirmativo, há alguma razão para o fato?

Não há epidemia de caxumba na cidade nem em nenhuma de suas regiões. O que ocorre são surtos em estabelecimentos fechados, como escolas, clubes, etc. O que configura o surto é a ocorrência de mais de dois casos em um aglomerado, onde, devido à proximidade de contato dos indivíduos, pode haver uma transmissão direta.

É importante ter clareza de que a caxumba é uma doença endêmica no Brasil, ou seja, ocorre o ano inteiro, com maior frequência nos períodos de inverno e início de primavera. No Rio de Janeiro, assim como em diversos outros municípios brasileiros e em outros países, há registro de surtos em estabelecimentos fechados. Este ano, temos registrados na cidade cerca de 30 surtos em locais fechados, com aproximadamente 600 casos, o que está dentro da normalidade.

A caxumba não é uma doença de notificação compulsória individual, mas apenas quando há ocorrência de surtos, para que sejam adotadas as medidas de controle e orientação.

2- Quais são os riscos da caxumba? Existe o risco de morte?

A caxumba é uma doença infecciosa, de evolução benigna, que na maior parte das vezes se manifesta na infância. Os casos de complicações e principalmente óbito associados à caxumba são muito raros.

No Rio, os casos até agora acompanhados pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde tiveram evolução benigna. O óbito de uma estudante ocorrido na Barra foi investigado pela SMS e exames de sorologia deram negativo para o vírus da caxumba, descartando que o caso tenha sido resultado de complicações da doença.

3- Qual a probabilidade e/ou razões para as sequelas como surdez e infertilidade para àqueles que contraem o vírus paramyxovirus?

São eventos de ocorrência extremamente rara e não diretamente ligados ao vírus da caxumba. No município do Rio não temos registro de qualquer caso com essas complicações.

4- Quanto ao período de incubação?

O período de incubação varia de 14 a 25 dias. A transmissão se dá a partir de dois dias antes até nove dias depois do aparecimento dos sintomas.

5- Quanto aos sintomas da doença: como perceber que seu filho contraiu o vírus?

Inchaço e dor na parótida e nas outras glândulas salivares infectadas (localizadas embaixo da mandíbula), dor muscular e ao engolir, febre, mal-estar, inapetência são sintomas da infecção, menos intensos nas crianças do que nos adultos. Em caso do surgimento dos sintomas, a criança deve ser levada ao médico para confirmação do diagnóstico.

6- Como tratar?

O tratamento é sintomático com analgésicos e antitérmicos que devem ser prescritos pelo médico. O doente deve permanecer em repouso enquanto durar a infecção.

7- Como prevenir?

A forma mais eficaz de se prevenir a caxumba é com a vacinação.

A vacina contra a caxumba compõe as vacinas Tríplice Viral e Tetra Viral e faz parte do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. É aplicada nas crianças em duas doses: aos 12 meses de vida (Tríplice Viral) e aos 15 meses (Tetra Viral). São necessárias as duas doses para a imunização completa e a eficácia da vacina é de 97%, desde que a situação vacinal esteja completa. A grande maioria das pessoas que contraem a doença é devido à falta de uma ou mesmo das duas doses da vacina.

Portanto, é importante manter os calendários de vacinação das crianças sempre em dia. Em caso de dúvida, se a criança deixou de tomar alguma das vacinas, o responsável deve buscar orientação em uma unidade de Atenção Primária (clínicas da família ou centros municipais de saúde), levando a caderneta de vacinação. Se necessário, a situação vacinal será regularizada com as doses que não tiverem sido aplicadas na época indicada.

8- Quais os riscos de contaminação em sala de aula? E nos ambientes abertos do colégio?

A caxumba é transmitida diretamente de pessoa a pessoa, pelo contato com as secreções respiratórias (gotículas de saliva ou secreções nasais devido a espirros e tosses). O ambiente fechado, sem circulação de ar, favorece a transmissão do vírus. Em ambientes abertos e ventilados a possibilidade de transmissão é muito rara.

9-Há alguma razão para um relevante número de casos de caxumba situar-se entre crianças na faixa etária de 12 a 14 anos?

A maioria dos casos no Rio tem ocorrido na faixa etária dos 10 aos 19 anos, entre pessoas que não haviam tomado pelo menos uma das duas doses da vacina.

11- Existe alguma possibilidade de um vírus mais forte e/ou redução do potencial da vacina?

Essa avaliação cabe ao Ministério da Saúde, mas até o momento não há nenhum indicativo disso. A maioria dos casos registrados de caxumba na cidade foi de pessoas que estavam com a situação vacinal em atraso. Em julho, somente na primeira semana após o alerta feito pela imprensa sobre os surtos, 146 mil pessoas procuraram as unidades de Atenção Primária para verificação da situação vacinal para caxumba. Dessas, 12.538 não estavam com as vacinas em dia ou desconheciam sua situação vacinal e receberam a dose que faltava. Na busca ativa em locais onde se registraram surtos, 1.286 pessoas estavam com a situação vacinal incompleta e foram vacinadas.

12-O exame de sorologia é recomendado?

O diagnóstico é geralmente clínico. Se houver alguma dúvida clínica, o médico responsável pode recorrer à sorologia.

13-Que outras medidas a escola pode adotar para a prevenção?

O Colégio Recanto já notificou à Coordenação de Saúde da Área Programática 4.0 a ocorrência de cinco casos de caxumba, desde o início de agosto, e conforme orientação deverá solicitar aos pais o envio de cópias das cadernetas de vacinação dos alunos. Até esta sexta-feira, dia 28, agentes da Divisão de Vigilância em Saúde irão à escola para verificar as cadernetas, se todas as crianças estão com as vacinas em dia, ou se falta alguma dose, além de dar novas orientações a serem repassadas aos responsáveis.

14-O envio de crianças à escola é recomendado?

A recomendação é para que o paciente com caxumba fique de repouso em casa, o que é importante tanto para sua recuperação quanto para evitar o contágio de outros alunos. O médico que assiste à criança deverá dar as devidas orientações aos pais.

15-E quanto ao uso de máscaras?

Não é necessário. O mais importante é manter a situação vacinal das crianças em dia e orientá-las sobre hábitos simples de higiene – como lavar as mãos com frequência; não compartilhar talheres, copos, etc.; não tossir ou espirrar na direção de outras pessoas, entre outras – que ajudam a prevenir não só a caxumba, mas várias outras doenças transmissíveis.

 

Legenda:Drª Betina Durovni

Links Importantes: Fiocruz ( sintomas, transmissão e prevenção)Fiocruz ( Especialista não vê motivo para alarme) e Ministério da Saúde ( Caxumba)

 


Compartilhe:
Facebook Tweet