Letra bonita pode fazer a diferença

Letra bonita pode fazer a diferença

20 de abril de 2009
por Guilherme Romar Borzachiello -
Colégio Recanto - Rio de Janeiro, RJ


 

Em meio aos amigos de cursinho, ele reconhece: é o que tem a grafia mais feia. “Escrevo muito rápido para acompanhar o professor e a letra sai horrorosa”, conta Pedro Polato Bites Costa, 16 anos, aluno do terceiro ano do Ensino Médio. Quando cursava a quarta série do ensino fundamental, Pedro até chegou a ter aulas de reforço de caligrafia. “Melhorou um pouco enquanto eu fazia, mas logo depois voltou a ser como antes”, diz o estudante. Apesar de admitir o problema, o vestibulando não se intimida: “Na hora da prova é só escrever devagar e com atenção para a letra ficar compreensível”. Caderninhos de pautas caligráficas? Nem pensar.
 
Para o grafólogo (profissional que analisa a personalidade de um indivíduo pelo estudo dos traços da sua escrita) e escritor Paulo Sérgio de Camargo preocupar-se com a grafia na prova pode ser um fator a mais de complicação em uma hora já tensa. “O aluno tende a se preocupar com a letra e esquece que precisa encadear bem as ideias”, explica o autor do livro Como ter uma escrita legível, inclusive no vestibular, que será lançado no próximo semestre pela editora Ágora.
 
O professor de Português do Curso Positivo Wellington Borges, o Wella, concorda. Para ele, a letra do vestibulando não deve interferir na nota do exame. “Se (os corretores) forem avaliar a grafia, o vestibular se torna uma prova de primário”, argumenta. Ele defende que o importante é o desenvolvimento do texto, e ainda tranquiliza quem costuma escrever com a letra ‘de forma’. “Se a manuscrita for incompreensível, é melhor optar pelo entendimento e escrever como está acostumado”, aconselha Wella.
 
Apesar de raros, casos de anulação acontecem.
 
O coordenador do curso de Letras da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e um dos corretores das provas do vestibular da instituição, Sebastião Lourenço dos Santos, diz que as letras incompreensíveis são minoria nas redações e nas questões discursivas. De acordo com ele, a cada mil alunos avaliados somente 1% apresenta grafia ilegível. “A gente tem de fazer um esforço dobrado e às vezes até chamar o colega para saber o que está escrito”, conta. Ele garante que a legibilidade não é um critério avaliado, mas admite que facilita a correção. “Priorizamos o desenvolvimento do tema, a elaboração de um conceito e a transcrição em palavras, mas claro que há prazer em ler um texto com letra bonita, limpa e apresentável”, afirma.
 
Nas Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), a legibilidade também não é um dos critérios de avaliação. A instituição leva em conta a concatenação de ideias, a pertinência da argumentação e a atenção ao tema e ao gênero pedidos. No entanto, de acordo com a presidente da comissão de avaliação do vestibular, Wanda Camargo, uma letra ilegível pode prejudicar o candidato. “Algumas vezes os corretores não entendem o que está escrito. Ora, se eles não conseguem entender, não têm como avaliar”, alerta.
Segundo ela, todos os anos diversos alunos têm a redação anulada, o que pode ocorrer por vários motivos, inclusive por causa da letra. Para evitar o problema, Wanda afirma que a equipe que aplica a prova sempre reforça o pedido de clareza na escrita.
 
Texto legível
 
De acordo com a professora de caligrafia artística Inês de Castro Nowacki Gomes, o principal ponto não é ter letra feia ou bonita, e sim compreensível. “A grafia deve ter legibilidade e um cunho pessoal, o que não significa voltar a escrever como criança (com letra de caderno de caligrafia).” Segundo ela, ter de modificar um traço gráfico pode causar impacto na autoestima do estudante, além de fazer com que o aluno perca muito tempo na prova. Aos vestibulandos, a recomendação é apenas organizar os pensamentos. “Muitos chegam às minhas aulas confusos e isso transparece na escrita”, diz.
 
O grafólogo Paulo Sérgio de Camargo, porém, comprovou em pesquisas que a análise de um texto pode ser influenciada pela apresentação. “Dei a um grupo dois textos, com a mesma grafia, mas em uma das cópias joguei café e amassei. O melhor avaliado foi o limpo”, conta.
 
Dicas
 
O texto claro é um diferencial para o estudante no vestibular. Além do encadeamento de ideias, preste atenção às letras.
 
* Escreva um texto de cinco linhas e peça para um colega ler. Se ele não entender, observe quais letras são problemáticas e tente refazê-las.
 
* Sente-se reto, com os dois pés apoiados no chão e levemente afastados um do outro. Não se dobre sobre o papel, porque isso dificulta a respiração e pode causar tontura ao fim da prova.
 
* Incline o papel em relação ao corpo no momento de escrever. Esse movimento é natural.
 
* Pegue a caneta corretamente, segurando-a com o indicador e o polegar e apoiando-a no vão entre esses dedos. O mindinho e o anelar devem se apoiar na mesa. Isso facilita o deslize na escrita e não sobrecarrega o braço.
 
* Nunca dobre o punho para escrever e não use a força. Uma grafia com muita pressão pode causar desgaste na mão e braço, além de provocar calos.
 
* As letras minúsculas não devem ter a mesma dimensão das maiúsculas. Nas letras altas manuscritas, como o ‘t’ e o ‘l’, o traço deve ser longo. Em ‘p’ e ‘q’, por exemplo, o traço deve ficar próximo à linha inferior do papel.
 
Sucesso...

 


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